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sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

CARRO PARA MUITOS É UMA PAIXÃO.



Em muitos países, nos quais se inclui o Brasil (e a Itália, naturalmente), carro não se escolhe com a razão e sim com o coração. Se perguntado, o comprador vai garantir que decide a compra do carro com a razão, afinal o investimento é alto.

Observando com mais atenção vemos, entretanto, o desavisado comprador de um carro duas portas, poderia lhe responder que o faz para proteger as três crianças de caírem pelas portas traseiras, ignorando as travas "anti-pestinhas", que estão disponíveis nos carros quatro portas brasileiros desde 1976, ou o que é pior, que ele não tem crianças a transportar 99% do tempo. Na verdade a escolha foi feita por impulso ou puro preconceito, no sentido mais amplo da palavra.


Há outros exemplos de afastamento da razão, de modismos e de preconceitos baseados no conhecimento geral, alimentado a cerveja nas rodas de amigos.

Comprar um bólido italiano sem ar condicionado, o que permite ao "piloto" suar a camisa, exibindo-a aos mortais que andam em comportados “carros de linha”, é um bom exemplo de afastamento da razão e alinhamento com a emoção.

Carros com enormes motores, “cruise-control”, imensos porta-malas e etc, para usuários tipicamente urbanos que usam o carro em percursos curtos e travados, demonstram que, ao escolher um carro, o que menos conta é a conformidade com as necessidades racionais que o carro deveria atender do usuário.

O que vale mesmo é o coração, seja impulsionado pelas propagandas na TV, seja pelas fantasias pessoais de poder, destaque e performance, nas quais o carro acaba por assumir um papel de ator principal.

A falta de razão e a tônica na emoção levam às distorções e aos preconceitos, na maioria das vezes sem qualquer fundamento.

No Brasil um bom exemplo de preconceito infundado foi a reação ao lançamento dos "carros 1000". Iniciativa da Fiat em 1990, impulsionada pela redução do IPI (Imposto sobre Produto Industrializado), a novidade foi seguida pelas demais montadoras, que fizeram "lipo-aspiração" em seus motores, emagrecendo adiposos 1.600 até os dietéticos 1.000 cm3, previstos na lei fiscal para enquadramento na recém criada alíquota mínima.

Sucesso imediato de vendas (por conta do preço atraente) os "carrinhos" (vejam o preconceito...) sofreram todo o tipo de crítica e preconceitos. De paralíticos, capengas, rodas presas, freios de mão, entre tantos outros adjetivos os Mil (1.0) foram qualificados. Os compradores amargaram chacotas e discriminações no trânsito (“...Maridão, não pare atrás do Mille pois estamos com pressa...” vociferaram muitas co-pilotas).

Excetuando aqueles que adquiriram o famigerado (e natimorto) Chevette Junior, a grande maioria dos usuários de carrinhos mil estava satisfeito com seus carros, pois eles atendiam às necessidades de transporte das grandes cidades, onde ultrapassei com meu Uno Mille várias BMWs, Mercedes, Nissans, Pontiacs, Jaguares, Ferrari (no singular, pois foi só uma) e etc, naturalmente tudo ocorrido no engarrafamento do Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro, que nivelava por baixo todos os automóveis no quesito desempenho.
Ressalva seja feita apenas ao conforto e ao status, nunca comparáveis do meu Mil a nenhum dos carros citados.

Já que toquei no assunto, vou ampliar a questão. O Chevette Junior atendeu à necessidade imediata de marketing que a GM tinha de lançar um carro mil no mercado brasileiro. A operação de transformação do motor não foi das melhores, aliada às características anacrônicas do carro (motor dianteiro longitudinal, câmbio super dimensionado e transmissão traseira) a montadora acabou gerando um carro inusável fora dos engarrafamentos, dos estacionamentos e da garagem. Mais tarde vamos discorrer sobre a dinâmica dos automóveis e ficará mais fácil avaliar o porquê do insucesso dinâmico do Junior.

A lição foi bem aprendida, no decorrer do tempo a GM lançou competentes motores 1.0, equipando os Corsas/Classics e os Celtas.

Os outros 1.0 tiveram melhor sorte, principalmente o Gol e o Uno. O segundo, na suas versões Electronic, de 1993, e EP, de 1996, conseguiu milagres de desempenho, sendo naquela época o motor 1.000, aspirado, mais potente em produção de larga escala no mundo, levando o Uno a superar os 150 km/h de velocidade máxima e acelerando de 0 a 100 km/h em pouco mais de 16 segundos. Verdadeiros prodígios.

Estes dados medidos (e portanto irrefutáveis) surpreenderam alguns colegas, preconceituosos de plantão, que atacavam os proprietários de carros "MIL" (generalização que acabou atingindo a todos os carros com motor de volume mil cm3, independente da procedência). Dando uma rápida sondada na lista de seus carros anteriores, pude encontrar Opalas 2.500, Passats, Fuscões, Brasílias e outros, qualificados pelos saudosos ex-proprietários como "rassudos" e que na prática tinham desempenho igual ou inferior ao dos atuais carros “um-ponto-zero”.

Mais recentemente, com o embarque de injeções multiponto, mapeamento dos motores e sistemas mais avançados de monitoramento da pré-detonação e dos gases resultantes da combustão, foi possível aumentar as taxas de compressão e melhorar as curvas de torque dos motores, atingindo desempenho inimagináveis para um motor mil nos idos dos anos 90.

Por enquanto estamos nivelados? Vamos dar uma guinada, mudando um pouco o foco, e voltando para o carro usado como “roupa”.

Não há dúvidas que os itens de conforto embarcados nos carros são agradáveis, e em algumas cidades, quase fundamentais, como é o caso do ar condicionado no Rio de Janeiro, que deixa do lado de fora o calor, os pivetes e outros tipos pouco amistosos (amigos apenas do alheio).

Para quem quer (e principalmente pode ...) andar num "foguete" é um prazer, ou seja, comprar um importado cheio de “cavalos” sob o capô é sem dúvida uma opção que povoa os sonhos da maioria dos mortais do sexo masculino.

Longe das escolhas racionais (e financeiramente limitadas), a escolha dos caros modelos alemães, franceses, ingleses, italianos, japoneses, americanos, etc. é quase (reforço o quase) a certeza de se comprar algo atualizado tecnologicamente.

Já longe da situação que gerou a figura de linguagem de nosso ex-presidente, chamando os carros brasileiros de carroças (ele tinha razão, pelo menos nisso...), hoje nossos “brazucas” estão muito menos distantes dos carros disponíveis na Europa e nos EUA do que acontecia antes e durante os anos 90. Isto aproximou muitos “mortais” das tecnologias mais avançadas. A eletrônica, assim como aconteceu com os computadores, teve seus custos bastante reduzidos, permitindo que avanços tecnológicos significativos chegassem por aqui e fossem embarcados, inclusive em muitas versões de carros ditos “populares”.

Escolher um nacional ou importado hoje requer mais critério, pois há a chance de se pagar muito por um importado e estar se levando quase a mesma coisa, do que se a escolha fosse num nacional avançado.

Há por outro lado o intangível, o prazer...., pois alguns especialistas em comportamento afirmam que o carro é uma extensão do homem, um símbolo de status e poder, é a "roupa” que todos vêem e que diferencia os eleitos dos simples mortais.

A relação entre o homem e o carro, só perde em intensidade para a relação com os filhos, pais e esposa, mas deixa longe a com os amigos. É, portanto, fácil entender a pouca racionalidade na ora da escolha do automóvel, coisa que não pretendo alterar nos leitores deste BLOG.

Tenho, por outro lado, o objetivo de subsidiar àqueles que, ainda que se dispondo a fazer escolhas racionais, estarão pelo menos mais aptos a embasar uma argumentação sobre sua opção emocional, que costuma nortear a compra de um carro no Brasil.

Em outra postagem vamos tratar de alguns pontos racionais para a escolha de um carro novo. Usá-los e ponderá-los dependerá da vontade, dos interesses, das aplicações e das experiências pessoais de cada um. Naturalmente não há uma regra fixa que se aplique a qualquer pessoa, mas muitos me perguntam “qual o melhor carro para eu comprar?”

Quando não consigo fugir à resposta, procuro responder, sempre depois de conversar um pouco e sondar pontos chave, quais alternativas não comprar, sempre me baseando nos valores pessoais do interlocutor, pois elas feririam demandas básicas que não seriam atendidas e que frustrariam o comprador em curto prazo. Como já disse, via de regra, a escolha final recai no emocional.

Um comentário:

Anônimo disse...

Poxa, realmente é um ponto difícil de se considerar. Pensar na compra com o coração é fogo pois, um sentimento errado pode causar uma dor de cotovelo depois.... puxa, o carro era tão legal e tal e agora vive dando problemas....

Acho que no Brasil, apesar de muito difícil, o ideal é encontrar um balanço entre a compra por impulso/emoção com a compra racional.

Infelizmente, a um bom tempo, automóvel no Brasil não é mais investimento.

Acho que se for comprar com emoção, que seja para se ter o carro por pelo menos uns 7 a 10 anos. Casar com o carro mesmo.

Mas sabemos que é difícil pois se você casa com o carro e o seu amigo troca mais vezes de carro, fica aquela pontinha em algumas pessoas do sexo masculino principalmente, de "poxa, ele trocou de carro e eu tb quero".

Á medida que se vai trocando de carro, o poder aquisitivo de um novo automóvel (mesmo usado) vai aumentando aos poucos. E isto vai motivando a compra pela emoção....

Enfim, é difícil combinar estes dois fatores da equação.